Apontamento para o Livro de Lamentações de Jeremias (lições 2 / parte 2)

Lamentações de Jeremias

    O título hebraico é ‘ekah, derivado das primeiras palavras dos capítulos 1, 2 e 4. Este termo era usado nas canções fúnebres e significa “como”. Podemos verificar seu uso em 2 Sm. 1:19, quando Davi chora a morte de Jônatas dizendo: “Como caíram os guerreiros!”
   
 
   O livro está em forma poética, organizado em um acróstico alfabético. Os cinco capítulos equivalem aos cinco poemas.
    
    O Antigo Testamento hebraico o inclui como um dos cinco rolos (juntamente com Rute, Ester, Eclesiastes e Cantares) da terceira parte da Bíblia hebraica, os hagiógrafos ("Escritos Sagrados"). 
    Cada um desses cinco livros era tradicionalmente lido num evento determinado do ano litúrgico judaico. 
    Este, se lia no nono dia do mês de ab (cerca de meados de julho), quando, então, os judeus relembravam a destruição de Jerusalém. 
    A septuaginta colocou Lamentações imediatamente após o profeta Jeremias, onde aparece na maioria das Bíblias de hoje.
 
   
    Foi composto provavelmente entre a destruição do Templo em 587 a.C. e a libertação do rei Joaquim da prisão na Babilônia em 562 a.C. (2 Rs. 25:27-30). O desespero demonstrado nos versos finais do livro (5:19-22) parecem indicar que o autor não tinha conhecimento sobre a libertação de Joaquim e o cumprimento das profecias de Jeremias acerca da restauração de Israel (Jr. 30-33).

    
   O livro é uma reação da alma sobre a destruição de Jerusalém pelo exército babilônico em 587 a.C. O registro histórico dessa destruição está em 2 Rs. 24 e 25 e 2 Cr. 36. 
   Durante dois séculos os profetas procuraram alertar a nação de Israel sobre o julgamento iminente, entretanto os ouvidos do povo se acostumaram com as ameaças e seu coração endureceu-se. 
     Em virtude da demora no julgamento, o povo ficou com uma falsa impressão de segurança (Jr. 6:13-14; Jr. 7:1-4). O livro mostra de maneira poética o horror que a invasão babilônica representou para o povo hebreu e como Javé tornou-se como um inimigo de Israel (Lm. 2:2-5).

Estrutura de Lamentações de Jeremias

O livro de Lamentações de Jeremias está estruturado da seguinte forma:

>  Pranto pela cidade fantasma – 1
Pranto pela ira da Javé manifestada em Jerusalém – 2
>
 Um canto de esperança – 3
O caos de Jerusalém – 4
A desgraça e a restauração – 5

    Conforme a lista acima Lamentações é composto de cinco poemas. Os poemas contidos nos capítulos 1, 2 e 4 são canções fúnebres que começam com a interjeição “como” (‘ekah). Os outros dois capítulos são poemas de pranto individual e coletivo, os capítulos 3 e 5 respectivamente.

  Conforme exposto anteriormente, os poemas em Lamentações são acrósticos alfabéticos, seguindo as vinte e duas letras do alfabeto hebraico. 
  Há pelo menos três benefícios para disposição dos lamentos no formato acróstico:

>
 Facilita a memorização da catástrofe que se abateu em Jerusalém. O povo hebreu tinha uma forte tradição oral, e este método ajuda no processo de disseminação do conteúdo.
>
 Os poemas acrósticos simbolizam de forma completa toda tristeza pela lamentação de Jerusalém.
>
 A forma acróstica obrigava o poeta a pensar em todas as faces de um mesmo tema, atingindo a completude.

   O primeiro poema personifica a cidade de Jerusalém como uma mulher orgulhosa, brutalmente estuprada e abandonada, enfatizando a solidão, a decadência e o abandono (Lm. 1:2,9,16,17).

   O segundo trata sobre a força da ira de Javé contra Jerusalém e o quarto mostra as terríveis consequências do julgamento divino. O único consolo de Jerusalém é saber que seu castigo terminará (Lm. 4:22).

   O terceiro poema acróstico é o mais longo e bem construído do livro com três versos para cada letra do alfabeto. Só perde em complexidade para o Salmo 119, que possui sete versos para cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico. É o centro de toda composição da obra, tanto no viés literário quanto no teológico. Este trecho contém:

· sofrimento pessoal do poeta, que também expressa o sentimento da nação (3:1-20)
· oração por consolo e esperança (3:21-29)
· oração de arrependimento (3:40-54)
· pedido de vingança (3:55-66)

Propósito e conteúdo

O livro de Lamentações de Jeremias aborda os seguintes assuntos:

· Javé castiga o pecado
· O sofrimento é um meio de aprendizado
· O julgamento de Javé reflete sua justiça
· Apesar do sofrimento há esperança

   Na narrativa de 2 Reis 24 e 25 lemos o registro histórico, embora do ponto de vista teológico, da tomada e destruição de Jerusalém pela Babilônia. 
     Em Lamentações, Jeremias capta o estado de espírito dos hebreus àquilo que eles consideravam impossível: a queda de Jerusalém e a ruína do Templo. Apesar de constantemente advertidos sobre esta tragédia, resultado da quebra da Aliança deuteronômica, os sobreviventes estavam inconsoláveis.

   
O sofrimento humano

   O sofrimento humano é inevitável, pois é uma consequência do afastamento da humanidade de Deus (Gn. 3). Ao se afastar do Senhor, a humanidade fez somente o que era mal (Sl. 14:1-4) e tornaram-se corruptos.
  Javé, embora longânimo (Na. 1:3), em virtude de sua santidade e justiça, não deixará os culpados sem castigo. O Antigo Testamento fornece oito sugestões para o entendimento do sofrimento humano (de acordo com R.B.Y. Scott).

1) Retributivo;
castigo justo pelo pecado, (
Jó 4:7-9; 8:20) 
2) Disciplinador;
aflição corretiva, ( 
Dt. 8:3; Pv. 3:11-12) 
3)  Probatório; 
teste divino do coração,( 
Dt. 8:2; Jó 1:6-12; 2:10). 
4) Temporário; 
comparado com a boa ou má sorte dos outros, (
Jó 5:18; 8:20-21; Sl. 73) 
5) Inevitável; 
resultado da queda, ( 
Jó 5:6-7; Sl. 14:1-4) 
6) Misterioso; 
caráter e plano de Deus não são plenamente conhecidos,( 
Jó 11:7; Ec. 3:11)
7) Fortuito e sem sentido moral; 
tempo e acaso afetam a todos, (
Jó 21:23-26; Ec. 9:11-12) 
8) Vicário; 
um sofre por outro ou por muitos, ( 
Dt. 4:21; Sl. 106:23; Is. 53:3,9,12). 

   Judá reconheceu merecer o castigo como execução da justiça da Javé (Lm. 1:5,14,22; 4:13)

Na leitura de Lamentações, notamos os seguintes temas dos capítulos:

Capítulo 1 descreve o terrível sofrimento de Jerusalém como uma viúva que, além de perder o marido, foi levado à escravidão. O motivo foi claramente identificado: “Jerusalém pecou gravemente; por isso, se tornou repugnante” (Lamentações 1:8).

Capítulo 2 focaliza o papel divino neste castigo. Deus castigou seu povo. O sofrimento não foi por acaso, e não foi atribuído a causas naturais ou políticas: “Tornou-se o Senhor como inimigo, devorando Israel; devorou todos os seus palácios, destruiu as suas fortalezas e multiplicou na filha de Judá o pranto e a lamentação” (Lamentações 2:5).

Capítulo 3 apresenta os apelos feitos pelo povo a Senhor, buscando sua clemência e misericórdia. Apesar da severidade do castigo, reconhecem que Deus foi misericordioso e não destruiu por completo seu povo: “As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim” (Lamentações 3:22). Por causa desta confiança na misericórdia de Deus, o povo ainda esperava a reconciliação: “O Senhor não rejeitará para sempre; pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão segundo a grandeza das suas misericórdias” (Lamentações 3:31-32).

Capítulo 4 considera o grande sofrimento de Jerusalém, lembrando da glória e felicidade desta cidade em outras épocas. Como é comum nos profetas, os líderes são citados como os principais culpados: “Não creram os reis da terra.... Foi por causa dos pecados dos seus profetas, das maldades dos seus sacerdotes que se derramou no meio dela o sangue dos justos” (Lamentações 4:12-13).

Capítulo 5 descreve o arrependimento do povo clamando a Deus e pedindo perdão.

Lamentações, como o nome do livro sugere, apresenta uma mensagem triste sobre as consequências do pecado, nos lembrando de que “Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo”(Hebreus 10:31).


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